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Endometriose: descoberta abre caminho para tratamento não hormonal

Novo estudo mostra que dor da endometriose é causada por um tipo de glóbulo branco chamado macrófago

Cientistas descobriram que certo tipo de célula imunológica pode ser uma das principais causas de dor pélvica em mulheres com endometriose. A descoberta pode levar a novos tratamentos para uma condição comum que afeta milhões de mulheres ao redor do mundo. A endometriose é uma condição em que o tecido, que normalmente reveste o útero, também cresce fora do órgão, tipicamente na cavidade pélvica. Estimativas da World Endometriosis Research Foundation sugerem que a endometriose afeta cerca de 176 milhões de mulheres em todo o mundo.

Os crescimentos anormais, ou lesões, da endometriose podem causar inflamação persistente, dor e infertilidade. Outros sintomas incluem menstruação dolorosa, fadiga, sangramento intenso e dor durante a relação sexual. Até agora não há cura para a endometriose. A cirurgia pode remover algumas lesões e tecido cicatricial. Tratamentos hormonais podem oferecer alívio dos sintomas, mas, muitas vezes, trazem efeitos colaterais após o uso prolongado. Desse modo, há necessidade de drogas não hormonais.

Nesse novo estudo, pesquisadores das Universidades de Warwick e Edimburgo, ambas no Reino Unido, descobriram que a causa da dor da endometriose é um tipo de glóbulo branco chamado macrófago, que sofreu mudanças como resultado da doença. A equipe relata as descobertas em um recente artigo do Faseb Journal (https://www.fasebj.org/doi/10.1096/fj.201900797R).

“Os macrófagos podem ser considerados células de limpeza do corpo, e são muito importantes para o sistema imunológico. Eles alertam sobre a presença de agentes estranhos”, afirma Arnaldo Cambiaghi, especialista em Medicina Reprodutiva e diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO*.

Macrófagos estimulam o crescimento de células nervosas

A autora sênior do estudo, Drª Erin Greaves, que atua nas duas universidades, explica que os tratamentos convencionais que usam hormônios “não são ideais” porque têm como alvo a função ovariana, e podem desencadear efeitos colaterais, como a supressão da fertilidade. “Estamos tentando encontrar soluções não hormonais”, acrescenta ela. Os macrófagos “modificados pela doença” estimulam o crescimento e a atividade das células nervosas liberando o hormônio de crescimento insulin-like growth factor-1 (IGF-1).

Estudos anteriores já haviam mostrado que os macrófagos têm um papel central no desenvolvimento da endometriose. As células do sistema imunológico ajudam as lesões a crescerem e também impulsionam o desenvolvimento do suprimento sanguíneo. Pesquisas mais recentes também revelaram que os macrófagos ajudam os nervos a crescer nas lesões.  O objetivo dessa nova pesquisa, observam os autores, foi determinar o papel mecanístico dos macrófagos na produção de dor associada à endometriose. Depois de executar vários testes com células e camundongos, eles sugerem que mirar os macrófagos alterados pode ser uma nova maneira de tratar a dor da endometriose.

Abrindo o caminho para tratamentos não hormonais

Lesões de endometriose atraem e contêm grande número de macrófagos. O ambiente da doença gera sinais que alteram a função das células imunes. Quando examinaram culturas de células de macrófagos modificados pela doença, os pesquisadores observaram como as células liberavam mais IGF-
1. Eles também descobriram que os níveis de IGF-1 no tecido da cavidade pélvica de mulheres com endometriose eram maiores do que em mulheres sem a condição e estavam de acordo com os níveis de dor.

Em outros experimentos com culturas de células, os pesquisadores mostraram que a adição de IGF-1, a partir de macrófagos, promoveu o crescimento e ativação das células nervosas.Um conjunto final de testes revelou que impedir a atividade do hormônio bloqueando o receptor da célula para o IGF-1, "reverte o comportamento da dor observado em camundongos com endometriose”. O fato de sinais no ambiente tecidual local poderem alterar a função dos macrófagos não é novo. No entanto, essas descobertas lançam uma nova luz sobre o que acontece com os macrófagos no caso específico da endometriose.”Se pudermos aprender sobre o papel dos macrófagos na endometriose, então podemos distingui-los dos macrófagos saudáveis e direcionar o tratamento para eles”, diz a pesquisadora.

“A imunologia é um importante capítulo da Medicina e uma promessa de cura para inúmeras doenças. Não há dúvida que o fator imunológico que envolve os macrófagos pode representar uma esperança de cura importante para uma doença tão avassaladora como a endometriose”, afirma Cambiaghi. Ele lembra que a doença prejudica a qualidade de vida da mulher, causando restrições não apenas no bem-estar, mas atrapalhando a vida profissional e estudantil da paciente. Além de ser uma das principais causas (cerca de 50%) de infertilidade feminina.

“A cura da endometriose é uma busca incansável. Este novo estudo traz luz a uma doença complexa, como é a endometriose. E toda novidade positiva tem de ser comemorada, afinal, a cada dez mulheres no país, uma tem o problema. Esta descoberta pode mostrar novas formas de aliviar os sintomas das que vivem com a doença”, finaliza o médico.

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